A estrutura da argumentação no texto dissertativo


  Embora a dissertação seja tão cobrada, não é muito fácil identificá-la nos tipos de textos que vemos por aí, não é? Ao menos, não se a entendermos como aquele conjunto de regrinhas com que, em grande parte das vezes, ela é definida: não pode usar primeira pessoa; não se deve dialogar com o leitor; é preciso não fazer parágrafos com número de linhas muito diferentes; é proibido título com essa ou aquela palavra; etc.

Com isso tudo, de fato, não é fácil encontrá-la e, muito menos, entendê-la. Trata-se de um texto em que você deve apresentar uma opinião, mas sem usar "eu acho...". Um texto em que você deve convencer o leitor, o qual, contudo, você não sabe quem é e com o qual não pode travar uma interlocução explícita. Um texto em que você deve ser objetivo – mas, se tem opinião, não seria já subjetivo?

Contraditório? Difícil? Talvez não.

Já que partir da teoria para a prática está complicando nossa vida, vamos fazer o contrário: tomando a concretude textual, tentemos extrair o que devemos fazer quando nos é cobrada uma dissertação. 

 O uso da primeira pessoa, a tese para defender a impossibilidade de se falar sobre o tema em tão poucas linhas, o fato de haver poucos parágrafos e a diferença nos tamanhos deles, provavelmente, derrubam várias das regrinhas com que nos acostumamos, não é mesmo? O que se espera então de um texto como esse? Na Fuvest, na Unifesp, na Unesp, por exemplo, acreditamos que o que está em jogo é a capacidade do candidato de propor um ponto de vista e sustentá-lo de maneira argumentativa. O que significa isso? Começaremos, nesta primeira postagem, com a ideia da tese. Nas próximas, discutiremos mais a argumentação.

  Construir o ponto de vista é elaborar a visão de mundo a ser defendida no texto. Se é uma visão sobre o mundo, já fica claro que será sempre algo passível de contestação, ou seja, você não está apresentando ao leitor o mundo em si, mas sim um modo de vê-lo, de compreendê-lo. Outra coisa: se é ponto de vista, o que se tem é um lugar de observação, é um recorte para olhar, de um jeito ou de outro, para aquilo que nos é pedido. Em outras palavras, não se resume,  ao “sou contra” ou “sou a favor” – à maior parte dos temas propostos, inclusive, essas posturas sequer são relevantes. A metáfora espacial, aqui, é importante: imagine-se se posicionando em lugares distintos para observar um objeto qualquer. A cada lugar, você será capaz de construir imagens diferentes, de estabelecer relações novas. E criar esse lugar é a nossa meta.

Só existe argumentação porque há a possibilidade de discordância, assim há alguém para ser convencido, justificando o trabalho de uma argumentação para defender de modo convincente um determinado ponto de vista. Não há imparcialidade na dissertação argumentativa, assim o aluno que não se posiciona, que fica "em cima do muro", seja por insegurança ou por medo de desagradar a banca, comete um grave erro. Nessa modalidade de dissertação, a maior parte do conteúdo deve destinar-se à apresentação de argumentos favoráveis à tese defendida e só é possível mostrar argumentos contrários se estes forem seguidos de contra-argumentos mais fortes, capazes de derrubar a oposição




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